Edição Especial: Act Duo Strap
Num filme em que há efeitos especiais realmente surpreendentes,
nos perguntamos: “Como será que tudo isso é feito? ”, os leigos apenas imaginam
a seguinte resposta: “Com programas avançados, é claro”. A vida pode não ser um
filme, mas pode ter uma estrutura muito além da cinematográfica para nos
conceder imagens inesquecíveis. E é como acontece no Cirque Du Soleil.
Como público você vê apenas uma parte da mágica, já que sem que você saiba há mais pelos bastidores. Seja com a atuação dos acrobatas, que tem que ser atores, assim como os palhaços e os carismáticos personagens principais do conto a ser retratado. E conhecer o “behind the scenes” da magia não acabou com a mágica para a minha surpresa, mas sim, me deixou extasiado com tamanha organização e sincronia entre os elementos usados em palco e os utilizadores dos mesmos. A equipe técnica de qualquer área do Cirque passa por treinos diariamente com os artistas, afinal não só a parte física e a execução de movimentos tem que estar bem treinados, como também todo o mecanismo que torna aquele número possível.
Cheguei na Marina da Glória, ligeiramente exausto pelo calor
que anda fazendo no Rio, mas empolgado
para conversar com os artistas em foco do Duo Strap, Kanukai Jackson e Florance
Tabary (que pela primeira vez estariam dando uma entrevista no Rio), e para
conferir os bastidores de mais um dos inúmeros shows do Cirque Du Soleil que já
conferi pelo mundo afora. Atualmente há 19 shows pelo mundo, alguns fixos, e
outros em turnê por aí. E nesses espetáculos, podemos encontrar facilmente
números rotativos, ou seja, se você for ver o mesmo show mais de uma vez, você
provavelmente poderá ser surpreendido por um ato não visto anteriormente.
O Cirque mesmo viajando por aí, traz um programa de educação
para as crianças do Cirque, isso incluí os pequenos artistas e os filhos dos
artistas já crescidos, ou seja, há professores auxiliando nessa área no Cirque.
E por falar nisso, inclusive, os artistas passam por cursos que vão desde o
inglês a maquiagem, ou seja, workshops indispensáveis para a manutenção do
artista dentro do Cirque.
No setor gastronômico, tenho a dizer que as refeições são
produzidas em grandes quantidades e por Chefs especializados. Na edição carioca
de Corteo me esbarrei com dois Chefs, um Holandês e um Alemão, que contam com a
ajuda de mais três para suprir a demanda. E em ocasiões especiais, o prato
típico da nacionalidade de alguém do elenco, é selecionado para ganhar destaque
no cardápio do dia.
Logo na entradada tenda dos artistas me deparei com
máquinas de lavar e na porta a frente o caminho para uma área de treinamento
que compartilhava seu imenso espaço, com o camarim dos artistas (que era a
única parte cercada dentro do espaço aberto), e com uma área de costura /
closet aberto (As fantasias são confeccionadas no Canada). Mais adiante,
entrando numa nova área, dividida por um pequeno corredor, encontrei mais
artefatos de cena, incluindo os balões da Valentina e os copos utilizados no
número musical. Tudo é tão minuciosamente preparado diariamente, antes de cada
sessão, e fica evidente ao bater os olhos nos bastidores dessa magia. É
facilmente perceptível pela organização e disposição dos objetos utilizados no
palco pelo ambiente. Quando entrei nesse segundo espaço da tenda dos artistas,
estavam verificando o som que sairia dos copos do número Crystal Glasses and
Tibetan Bowls e os deixando na medida certa para o efeito sonoro esperado. Logo
mais a frente, já na entrada do entorno do palco que possuí 360° um dos lustres
gigantes utilizados, já engatado para entrar em cena, assim que acionado. Todos
os mecanismos e elementos de cena são posicionados de forma que tenha fácil e
rápido acesso assim que eles são necessários. A área do backstage do Corteo é
superior a das outras edições que já passaram pelo Brasil, justamente por ter
mais objetos de cena. O espaço entre o palco e o chão tem cerca de 1m, o que é
surpreendente, pois para algum artista parar no centro do palco sem que ninguém
veja é necessário uma espécie de carrinho que o encaminha deitado até lá.
Todo o ambiente do entorno do palco é cercado por roupas e
utensílios precisos para os números. O caminho que passa por baixo das cadeiras
do público, fica iluminado por luzes laterais fixas no chão. E tudo fica tão
perto do público e ao mesmo tempo tão distante, afinal não podem deixar o
making of da magia amostra durante o espetáculo.
Durante o tour, conferi por um bom tempo o ensaio da
Florence e do Kaj, que fazem um dos números mais expressivos e poéticos de
Corteo, o Duo Strap. Traz poesia além das palavras, isto é, com gestos e
movimentos, que se comunicam. Onde o fio condutor são duas imensas faixas
suspensas. O número por trazer uma leveza e uma atuação que caminha para o
romantismo, atiça a minha visão sobre o Cirque, de que é um circo
romanticamente sensível. E é essa sensibilidade que nos toca e que os torna
grandiosos.
Tive um breve bate-papo com a Florence Tabary (França) e com
o Kanukai Jackson (Inglaterra). A Florence, começou no mundo do Circo aos 11
anos, na França. Seu irmão a inscreveu e desde então continua nessa mágica
atmosfera. E o britânico Kaj acabou sendo encaminhado a esse mundo circense
graças ao seu desempenho como ginasta que teve início em 1999, onde seu
desempenho o levou a ser campeão europeu na sua área. Após ele ser convidado a
se juntar ao Cirque Du Soleil ele se aposentou como atleta, mas não como
ginasta, afinal suas acrobacias no circo continuam encantando muita gente.
Para Kaj o Circo é mais completo, pois nele você tem um
interação diferente com o público e é obrigado a desenvolver talentos que
combinam atuação com exercícios físicos, atuações essas que incluem cantar e
passar uma certa emoção em seus números. A Florence que visivelmente ama também
ser parte da trupe de Corteo, iniciou sua carreira no CDS, após uma audição em
Paris. Ela que já fez La Nouba, disse que é possível fazer esse intercâmbio de
elenco entre shows do Cirque, mas para isso é preciso um novo teste para pegar
o papel.
Para a criação de qualquer número os artistas que estão
escalados para o ato, tem liberdade para ver o que funciona ou não para o
mesmo, e o que funcionar entra em ação sob os holofotes. Perguntei a eles qual
eles consideram mais difícil de executar, eles disseram que depende, pois tudo
tem uma técnica diferente, e o nível de dificuldade varia, mas que o poder de
tocar o público assim como o planejado, é a parte mais intensa para encontrar a
energia mais alta durante a performance. Eles ressaltaram que adoram realizar
qualquer número aéreo e que a atmosfera em cada país por qual passa o Corteo, é
diferente, a energia do lugar influencia.
Uma coisa que me chamou a atenção antes de trocar essa ideia
com eles, era o carinho deles pelo esporte Crossfit, esporte esse o qual ando
praticando recentemente. E entusiasmados eles falaram, que o esporte não é
obrigatório para as práticas circenses, mas que é um ótimo contribuidor para o
condicionamento físico. Os movimentos ajudam a manter a mente e o corpo bem
preparados para os momentos pré-show e para mantê-los fortes. O crossfit seria
de grande ajuda para o processo de aprendizado do corpo.
Adorei conversar com dois simpaticíssimos membros da equipe
de artistas de Corteo, que no total possui: 60 artistas de 19 países diferentes
e que se vestem durante o espetáculo com cerca de 260 peças de figurino. Não é
preciso ser do Cirque para ver que ser parte dele, é integrar uma experiência
multicultural fascinante e grandiosa.
Até breve,
Saudações circenses!